segunda-feira, 28 de julho de 2008

... ainda existe tanta discriminação?

Para encurtar caminho, chamo-lhe IDT. Representa o acrónimo: Ignorância Dogmática Telecomandada. É uma doença desta nova era da informatização e globalização. É um tipo de ignorância que também abrange a classe social com bons recursos financeiros e que tem acesso às mais recentes fontes de informação. É uma estupidez, só para acabar este primeiro parágrafo.

A IDT é a responsável pelos mais variados tipos de discriminação que hoje em dia ainda temos de aturar: racial, orientação sexual, sexo, idade… Serão estes os tipos que considero mais marcantes.

Infelizmente, o conceito instituído de inteligência na nossa sociedade, corresponde aquela pessoa que tirou um curso superior com distinção. Então se tira um mestrado ou doutoramento, só não é considerado um deus, porque ainda não calhou. Mas já está em estudo… No entanto, a maior parte das pessoas esquece uma variável fundamental para o atingir um nível de inteligência lúcida: bom senso. É esta pequena característica que nos permite pensar pela nossa própria massa cinzenta, construindo as nossas próprias ideias, opiniões e acções.

Sem esse bom senso, as pessoas acabam por se tornar apenas numas marionetas sociais, sem qualquer autonomia no desenvolvimento e aplicação da sua identidade. Pensam e agem de uma certa maneira, apenas porque dogmaticamente seguem as correntes sociais e religiosas que lhe foram injectadas.
Reflecte, também, um comodismo emocional enorme. De facto, é mais fácil por os outros a pensar por nós nas questões sensíveis da nossa vida. Quer dizer, sensíveis mais ou menos. Pegando no exemplo:

- “Então, o que gostas de vestir?”
- “Ainda não sei. Não li as últimas revistas da moda… Depois de ler, já te digo o que é que eu gosto.”

Este é um caso superficial de IDT. Depois temos os mais sensíveis e que mexem com o factor fulcral da felicidade de cada pessoa: liberdade emocional:

- “Então, o que achas da homossexualidade?”
- “Ai que nojo… morriam todos!!!”
- “Mas porquê?”
- “Porquê? É deus que diz. Ele é que sabe…”

Um caso infeliz de IDT agudo…

Ainda não me pronunciei sobre o T do IDT: telecomandado. Inclui este termo pois existe um fenómeno extraordinário e simplesmente delicioso de observar relacionado com a mudança. Sim, os IDT também estão sujeitos à mudança, mas num contexto e condições especiais. Nos vários tipos de IDT, existem sempre os mestres. Os pastores de todas as ovelhinhas, como eu os gosto de denominar. Se algum deles acorda um dia de manhã com os pés de fora, e se lembra de fazer X, todas as ovelhas o seguem. É um processo de copy paste, que nunca falha. Posso novamente dar um exemplo superficial: os betinhos. Se o betinho pastor acha que um dia o sapatinho de vela tem de ter uma sola branca, os betinhos ovelhas seguem-no religiosamente. Aliás, vou colocar em cima da mesa, um suponhamos. Hipoteticamente se o betinho pastor se lembrasse de andar vestido com camisas e calções às florzinhas, os betinhos também o iriam seguir, novamente religiosamente. Seria algo completamente ridículo. Mas pronto, é uma hipótese radical que me lembrei agora, caricaturando a situação. Ups… afinal houve um betinho pastor que se lembrou disso… E flores de todas as cores para todos… Ai mas tão lindos e ricos que eles ficam… E aquela das camisas com os ursinhos nas costas? De chorar a rir e por mais. Sem dúvida que a raça dos betinhos tem sido um caso de estudo extremamente enriquecedor.

Mas o real problema não se manifesta nestes pequenos actos superficiais. Quer dizer, é um começo. Se para coisas simples as pessoas não são autónomas, muito menos para as mais complexas. Mas o que realmente me preocupa são aqueles actos e ideais que provocam discriminações. Uma coisa já conclui: o nível de discriminação de uma pessoa perante outras é directamente proporcional à sua falta de identidade.

A classe social que por obrigação deveria ter mais autonomia cerebral, é uma incontrolável possuidora abafante de IDT: classe política. Têm todos um tipo de postura política que, desde que me lembro de os ver, é sempre a mesma. Será que vou morrer sem ouvir a palavra cooperação em vez de luta? Estratégia em vez de tudo-à-pressa? Responsabilidade em vez de propaganda? Resultados em vez de votos? Não estou nada convicto…

Do lado direito da nossa assembleia, temos ainda os artistas que não deixam ficar as suas orientações dogmáticas religiosas em casa. O nosso governo não deveria ser laico? Não era suposto as pessoas serem livres emocionalmente, optando por pelo seu livre estilo de vida desde que não interfiram com a liberdade dos outros? Claro que se eu escolher como estilo de vida matar outras pessoas, ai estou a interferir na vida de alguém. Agora um homossexual que escolheu viver com outra pessoa, comprou casa, viveu anos com ela, ainda por cima sempre reprimida por uma sociedade hipócrita, e por infelicidade o(a) companheiro(a) morre, tem 1001 problemas por causa das heranças… É só um exemplo entre tantos outros. Uns quantos energúmenos de IDT, acham-se no direito de dizer como os outros têm de viver emocionalmente, contribuindo para uma sociedade completamente demente.

Ainda há pouco tempo, uma responsável governativa sem responsabilidade, veio passear, orgulhosamente e de nariz empinado, o seu discurso católico para a praça pública. Novamente condenando os homossexuais. Novamente querendo ela dizer às pessoas o que devem ou não fazer com o seu casamento. Para essa mulherzinha com o nome de Manuela Ferreira Leite, a família apenas serve para a procriação. Até me dá um arrepio ao ouvir coisas destas. E repare-se, por exemplo, no horror desta frase dita por essa criatura sobre um casamento homossexual:

- "Chame-lhe o que quiser, não lhe chame é o mesmo nome. Uma coisa é o casamento, outra é outra coisa qualquer”.

É triste. Uma coisa é ter uma opinião. Outra é ter poder e influência para obrigar os outros a seguirem essa opinião, que DEVE e TEM de ser livre. Que tenham as convicções que quiserem, mas não as levem para o trabalho, prejudicando a vida de tantas pessoas, e contribuindo para uma sociedade retrógrada, limitada e não autónoma. Já que essa Leite defende a autonomia financeira dos jovens, afirmando que não precisam de subsídios pois todos têm de ter nascer com ideias para novas empresas, porque é que também não luta por uma autonomia ideológica. Ah, já me esquecia que a nível psicológico não pode ser, pois convém aos pastores controlarem as cabecinhas dos seus rebanhos.

Ai está o segredo de qualquer IDT: conseguir fazer com que um grupo de pessoas faça aquilo que se quer sem perguntarem porquê. Total submissão é igual a total controlo, que é igual a uma sociedade limitada, com letargia emocional e impregnada de todo o tipo de discriminações.