quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

... não sentimos realmente?

Emoção e razão. Conceitos antagónicos?

É usual a asserção de que quem é racional, não consegue ser emotivo, e vice-versa. Parece que a emoção e razão são duas entidades que seguram as extremidades de uma corda. Uma puxa de um lado, outra do outro… uma ganhando terreno quando puxa mais forte do que a outra.

Culturalmente nascemos e crescemos com um conceito mágico de emoção. Emoção é aquela coisa linda e maravilhosa que sentimos, e que simplesmente não se explica. Aliás, é um ultraje conseguir justificar uma emoção. Ai de alguém…!!! Como é possível aquele energúmeno querer explicar tal mágica…!!! No mínimo deverá ser apedrejado ou queimado em praça pública.

Por outro lado, o racional é aquele que não sente. É o tipo frio da porta ao lado. Representa a pessoa cruel, sem magia interior.

Esta visão entre emoção e razão representa, e sendo frontal, um conjunto de personalidades pobres e mangonas. Afigura o poder fácil para se poder sentir tudo e mais alguma coisa, pois não é preciso fazer mais nada a não ser afirmar que se sente, ao bom estilo cinematográfico: “Ahhh, é tão lindo o que sinto que nem tenho palavras!!!!”. Sim, fica bem num livro… num filme… é o que vende… e é tão, tão fácil… Basta o blá-blá das frases feitas…

No entanto, vivemos num mundo real. O conflito entre razão e emoção acaba por ser um hino à fragilidade humana. Representa a total rebimba emocional.

Defendo que a fórmula para o genuíno sentir será: sentimento = emoção + razão.

Quer a emoção quer a razão devem crescer em paralelo. A razão representa o fundamento da emoção, acabando com o seu dogma. Como é possível sentirmos algo verdadeiramente sem se quer o conseguirmos explicar? Como é que possível sentir algo sem compreendermos os seus fundamentarmos; sem encontrarmos as causas para a o origem do seu aparecimento; sem percepcionarmos porque cresce ou diminui? Os “porque sim” e “porque não” representam uma pura ilusão, que mais tarde ou mais cedo nos projectam para as habituais balbúrdias sentimentais. Os extremos instituem-se, acabando a vida por representar uma teia de extremos: um onde se possui a pura convicção que se sente alguma coisa; outro onde simplesmente não sente nada.

A razão permite fugirmos desses extremos, construindo uma consciência lúcida perante as nossas emoções. Criando um equilíbrio que nos permite com que os sentimentos surjam e cresçam de forma sustentada. Possibilitam que se saiba porque gostamos, porque nos apaixonamos, porque amamos, porque odiamos… E quando se atinge o saber, mais se retira das emoções uma vez que conseguimos viver a sua essência, encaixando-as de uma forma mais intensa nas nossas vidas.

A nossa cultura está impregnada de dogmas religiosos, bombardeio de marketing publicitário, filmes, livros, revistas… de autênticas magias. Fazendo uma analogia com o ilusionismo, precisamente o ilusionismo não passa de uma magia de truques para enganar a visão e percepção humana. A magia das emoções inexplicáveis constituiu o primeiro duro golpe para potenciar em larga escala os truques para andamos enganados uma vida inteira, onde nos nutrimos apenas com os restos das nossas constantes ilusões…