terça-feira, 8 de junho de 2010

... o determinismo me começa a fazer sentido?

A dança das palavras ao ritmo do livre arbítrio: que efeito terá se não somente perpetuar as consequências determinadas diante causas antecipadamente programadas?

O destino jamais me fez sentido, mas... tenho abordado este assunto de outras perspectivas.

Se o mundo rebobinasse um dia, tudo aconteceria da mesma forma até ao presente? É uma elementar pergunta, mas bastante pertinente. Como é que poderia não acontecer tudo da mesma forma? Faz todo o sentido que tudo acontece-se da mesma maneira, como se uma gravação se tratasse. Ou seja, todas as consequências futuras têm por base causas passadas.

Uma cadeia de eventos à cadência de causas. No fundo, somos parte de uma estrutura mecanizada. Talvez um dia consigamos de facto olhar dessa forma. Mas neste momento, como não percebemos todas as leis que determinam as consequências, ainda logramos a mente aberta para a magia do poderoso livre arbítrio.

De facto, é ainda estranho pensar para mim próprio que o que eu decido e me acontece é um efeito complexo determinado pela minha genética e interacção com o que me rodeia, sem ser efectivamente controlado por “mim”. Esse “mim” que com os avanços da ciência percebemos cada vez mais e melhor que é uma máquina.

Pensar como máquina… pensar que o estou a escrever agora é porque tudo o que se passou antes me levou a tal... Não, não foi uma ideia luminosa da “minha” autoria. Foi simplesmente uma consequência que matematicamente teria de suceder. Será tão estúpida esta visão?

Muitos dos pontos concernentes ao determinismo ainda me fazem confusão. No entanto, quanto mais cogito sobre ele, mais sentido me faz. Não posso cair na tentação de pensar neste assunto sob o ponto de vista do ser humano. Ainda somos demasiado frágeis para nos querermos converter em máquinas de um momento para o outro. Outros exemplos simples da natureza poderão nos inspirar para procurar respostas.

O livre arbítrio, como funcionará na prática? Supostamente é o que nos permite escolher perante várias opções. Mas porque optamos por um caminho ao invés de outro? Como funcionamos neurologicamente para atingirmos tal livre arbítrio? A minha convicção é que quanto mais percebermos como funcionamos a esse nível, mais iremos ter certezas que somos simples máquinas. Complexas por certo… mas não retirando o factor matemático de decisão, mesmo não tendo consciência sobre ele.

No fundo, resultamos de uma aglomeração de células, em que cada tipo tem a sua finalidade. Uma célula é uma entidade viva por si só, que durante a sua existência cumpre a sua função X de uma forma Y originando a consequência W. Esse processamento não acontece de uma forma aleatória.

Imaginando que gozávamos da tal máquina do tempo. Uma célula tem um certo comportamento numa determinada situação que ao receber um input produz um output. Se com a máquina do tempo voltássemos 1000 vezes atrás no tempo antes desse comportamento da célula, em 1000 vezes o output seria o mesmo. Ou seja, o comportamento dessa célula é algo que já está programado; que está determinado perante uma fórmula que ela própria contém, sem que haja uma variável aleatória. O livre arbítrio numa célula não poderá existir… como poderá então existir em “nós”?

Facilita-me desagregar a palavra destino de determinismo. Destino é como se tudo o que fizéssemos estivesse escrito algures: como se alguma coisa tivesse escrito o início, meio e “fim” (O que será o fim?) de toda a existência. O determinismo é como se alguma coisa tivesse escrito apenas o início. O durante e o fim, são apenas consequências das regras definidas nesse início.

Em matemática aplicada existe um ramo dedicado à Teoria dos Jogos, que é utilizado para tentar projectar comportamentos futuros nas mais diversas áreas, como por exemplo na economia, política ou biologia. Este ramo da matemática desafia um pouco as leis determinísticas tentando, através dos inputs e da forma de processamento dos mesmos, “adivinhar” os consequentes outputs.

Talvez nunca consigamos perceber onde acaba o livre arbítrio (se é que existe) e onde começa o destino ou determinismo. Talvez seja demasiado cedo para pensarmos em tais matérias quando antes ainda permanecem outras tantas coisas que necessitamos de compreender. Mas que me deixa inquisitivo, isso deixa…

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