domingo, 4 de abril de 2010

... o amor?

Mas que colossal barafunda. Tanta cavaqueira da treta sobre a tal coisa a que estimamos apelidar amor. Pouca coisa me enjoa… mas ouvir falar dele na nossa cultura, já me causa alguns distúrbios intestinais. Cheira mal…

Atenção. Não sou anti-amor, bem pelo oposto. Apenas considero decadente a forma como normalmente é encarado. Ou não se diz nada sobre ele, com as frases do “Não tenho palavras… não se explica”; ou então diz-se tudo e mais alguma coisa sempre num patamar completamente fora da realidade humana.

O amor é como um saco. Uuuuui! Para algumas pessoas ouvir isto, causa tanto arrepio como umas unhas bem afiadas a patinarem por uma ardósia reluzente. Mas voltando aos sacos, estes servem geralmente para colocarmos coisas no seu interior. No caso do amor, vamos pondo as características de alguém que consideramos cumprir com o que desejamos. Quando o saco está cheio, então podemos expressar: “amo-te”.

O amor não é um sentimento. É um estado composto por diversos sentimentos.

Como ponto zero, é indispensável compreender que não existe amor à primeira vista. O saco vai-se enchendo ao longo das experiências que se partilham. É algo que requer tempo, e precisa de engrandecer de forma sustentada. Não existe magia nenhuma. Nem se quer outras fantasiais mais elaboradas do fumo-que-arde-sem-se-ver. Estas expressões representam apenas conversa de encher chouriço, e que nos distrai dos verdadeiros fundamentos desse estado amoroso.

Em primeiro lugar, é necessário meter-se na cabeça que cada pessoa tem o seu saco, e cada uma coloca nele o que achar relevante. Pelo que, não faz qualquer sentido nomearmos uma definição universal para amor. Cada pessoa ama como quer e bem entender. O tamanho dos sacos é dissemelhante de pessoa para pessoa; só há que respeitar.

Em segundo lugar, e como ponto fulcral, a busílis não é sentirmos o estado amoroso, mas sim perceber o porquê. Vejo muita gente a amar primeiro, e só depois tenta perceber porquê. Nestes casos, na maior parte das vezes, o saco está cheio… cheio de ar! Que significa o mesmo que estar completamente oco. A ilusão e pressão social ganharam espaço ilusório perante a realidade sentimental.

Chegando ao terceiro lugar, há que manter esse amor. Para isso, temos de ir renovando o que está dentro do saco, sem nos podermos esquecer que temos de o fazer concomitantemente com a pessoa de quem afirmamos amar.

No quarto lugar… bem, no quarto pratica-se o amor. Mas isso é palestra para maiores de 18 anos, e eu ainda sou muito pequenino.

No fundo, o delírio e falta de lucidez pelo amor, faz com as pessoas se olvidem da sua simples e pura essência. É complicado pensar-se no amor como algo simples, pois confundem-no com futilidade, sem que tenha absolutamente nada a ver. Somos injectados durante a nossa infância e adolescência para encararmos o amor como se fosse algo complexo, à moda da ciência quântica.

Mas a lucidez sobre o amor… a percepção e concretização do mesmo em simples palavras que descrevem exactamente o porquê de amarmos alguém, traduzindo o que temos dentro do saco, liberta-nos totalmente para que consigamos desfrutar desse estado na sua plenitude. Ai sim, surgem momentos que nos marcam e fazem sentido; e principalmente não vivemos no comum profundo engano.

Um abraço Camões. Sem dúvida, foste um homem muito à frente do seu tempo. No entanto, digo-te no olho (esta foi má… mas ele não leva a mal) que não concordo com o teu poema. Por isso, libertei-o da ilusão, e espelhei-o na realidade:

Amor é fogo que arde e se vê;
É ferida que dói e se sente;
É um contentamento contente;
É dor que desatina e magoa;

É um bem-querer;
É união andar por entre a gente;
É manter-se contente;
É cuidar que se ganha sem perder;

É querer estar livre por vontade;
É servir sem vencedor;
É ter com quem nos vive a lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão certo a si é o mesmo Amor?

2 comentários:

Maria disse...

A propósito de poetas, António Ramos Rosa disse um dia que "definir é abstrair e, por conseqência, trair." Acho louvável o teu esforço na tentativa de definição do amor, mas sinto que ficou muito para dizer. Arrisco, até, pelo teor da escrita, e pela tua conceptualização do amor, que és um homem. Acertei?
E se eu te dissesse, que o amor é antes uma arte, em que há uma escolha permanente e invisível de quem se quer continuar a amar...Que tal?

Porquê? disse...

Pode ser arte sim, a partir do momento em que se torna algo genuíno.

Cada pessoa deverá descobrir para si o que é amar. A partir dai, sendo uma concepção individual, poderemos considerar arte.

A escolha invisível... eu espero que seja sempre visível. Que adiante não mostrarmos aquilo que realmente sentirmos? Faz-me lembrar o pum egoístas: quem o dá, tapa-se com uma manta para ser ele o único a cheirá-lo :).

Pela tua conceptualização e teor da tua escrita sobre eu ser um homem ou mulher, arrisco afirmar que és feminista :). Acertei? O que cada um pensa jamais deve ter por base o género da pessoa. Hoje em dia, observar as coisas dessa forma é cada vez mais fútil.